domingo, 3 de março de 2024

NELSON RODRIGUES 2024


NELSON RODRIGUES 2024


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Se Nelson Rodrigues, o gênio da crônica e do teatro,  40 anos atrás já acertava todas, imagina se vivesse hoje.

 

1.A pior forma de solidão é a companhia de um paulista.

Mudou para pior. Hoje não há pior forma de solidão que  a companhia do som de música de dupla sertaneja.

2.Só os canalhas sabem rir.

Com que perfeição  sorriem nos dias de hoje alguns participantes do BBBrasil! Já repararam?

3. A opção do brasileiro está  entre a angústia e a gangrena.

Decididamente, a coisa evoluiu para pior. Hoje a nossa opção é entre Lula e Bolsonaro.

4.O brasileiro é de uma profunda religiosidade. Conheço um sujeito que tem 5 religiões.

A fé aumentou mesmo. Já vi gente com mais de dez  religiões, incluindo o Flamengo e a feijoada de sábado.

5.O psicanalista é uma comadre bem paga.

Hoje a diferença de um psicanalista para uma comadre é que a comadre fofoca a vida dos outros. O psicanalista  fofoca a vida do paciente.

6.Num casal há sempre um infiel. É preciso trair para não ser traído.

Enfim, Nelson antecipava que em uma relação sentimental, nunca dá empate, sempre um dos dois está ganhando. Se você desconfia que  está dando empate, é porque já está perdendo. Por via das dúvidas, pergunte a sua parceira (o) quem é quem nas suas fantasias sexuais. Claro que ela (o) dirá que é você. Finja que acredita.

7. Hoje o verdadeiro sábado é a sexta-feira, dia em que a virtude prevarica.

Como a prevaricação aumentou atualmente todo mundo começa a Sextar na quinta e vai chegar o dia em que vai segundar no domingo.

8. O sujeito que nega a existência de Deus devia ser amarrado num pé de mesa e ficar a beber água de gatinhas, numa cuia de queijo Palmira.

Nelson, como sempre,  devia ter razão, mas pior deveria ser o castigo para aquele que se diz agnóstico. Esse tem medo de assumir que é ateu ( por causa do inferno)   mas  quer posar de entendido em Ciência exibindo um nome bonito para se doar charme e credibilidade. Ou seja, por conveniência quer ficar em cima do muro. A esses é bom lembrar que Jesus Cristo disse: “Prefiro os quentes ou os frios. Porque os mornos, eu os vomitarei. “

8. Só existem duas coisas infinitas. O universo e estupidez humana.

Vladimir Putin, Benjamim Netanyahu e os terroristas do Hamas estão provando neste exato momento  que a estupidez humana ainda é maior. 





 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

NO RASTRO DE MÁRIO QUINTANA

 



SEGUINDO O RASTRO DE MÁRIO QUINTANA


 

Gosto de entrevistas. Quando se trata de escritores consagrados quase sempre se extraem boas reflexões sobre o ofício de escrever, de fazer arte e, principalmente, de viver.

No livro Viver&Escrever de  Edla Van Steen, que acabei de ler,  entre tantos escritores entrevistados privilegiei as respostas do saudoso poeta  Mário Quintana. E é no rastro de algumas de suas intervenções plenas de arguta lógica e sabedoria que  me referenciei para concatenar esta crônica.

1.Você se lembra de quando e onde descobriu que queria e podia escrever versos?

Ser poeta não é uma maneira de escrever. É uma maneira de ser. O leitor de poesia é também um poeta. Para mim o poeta não é essa espécie saltitante que chamam de relações públicas. O poeta é Relações Íntimas. Dele com o leitor. E não é o leitor que descobre o poeta, mas o poeta que descobre o leitor. Que o revela a si mesmo (...)  

De fato, na época dessas entrevistas, o poeta com notável premonição já antecipava o que está acontecendo hoje,  em larga escala , nas redes sociais.

Alguém duvida de que estas inauguraram um novo tipo de poeta: aquele que se tornou mais que poeta, um verdadeiro Relações Públicas de si mesmo?

2.Tentou alguma vez escrever conto ou romance?

(...) Depois de algumas tentativas reconheci que os meus contos só tinham um personagem: eu mesmo. Desisti.

Como seria bom para a literatura se todos aqueles que, carentes de ideias para suportar um romance, escolhem a si mesmo como foco e desatam páginas e mais páginas falando de suas elucubrações, tendo o próprio ego como centro de  gravidade, percebessem isso!   Como seria bom – diria- se tivessem a notável honestidade de um Quintana e desistissem de escrever romances.

3.Gostaria de comentar algo sobre a poesia de cunho social e político?

A poesia engajada? Eis aí uma questão com que, em certas épocas, costumam serem assaltados os poetas. Impossível não leva-la em conta quando se pensa no que fez pela abolição um poeta como Castro Alves. Mas querer obrigar todos a ser Castro Alves é forte. E, convenhamos, uma boa causa jamais salvou um mau poeta. Essa gente poderia fazer muito mais pelo povo candidatando-se a vereador.

Lembro que, na época em que viveram poetas como Castro Alves e Maiacóvski, estes detinham, por força do alcance da literatura, muito maior poder de alavancar multidões em torno de uma ideia. Então não havia a concorrência da imagem, disseminada pela chegada da televisão.  Hoje me parece haver certo desperdício no engajamento absoluto de certos poetas,  guardando a ilusão de que irão modificar o mundo a partir de seus escritos.

Quando são bons poemas, evidentemente, a boa poesia resiste a qualquer enquadramento, mas quando não são, acho que vale a lição de Mário Quintana:

Uma boa causa jamais salvou um mau poeta!.

Etc etc etc. Com o perdão de Quintana, sugiro que o leiam sempre. Esta é de uma edição de 1981,  Coleção LP&M Pocket.


segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

REVEILLON 2024: PRAZO DE VALIDADE

 



Tudo tem seu prazo de validade. Até o Universo que é infinito tem seu prazo de validade. E quem o determina é o tempo que você, humano, vive.  

Desconfio que o Prazo de Validade das coisas e das pessoas nunca foi  levado a sério como deveria pelas autoridades tanto é assim que quando você vai adquirir qualquer produto  a coisa mais difícil é descobrir onde se esconde o prazo de validade do mesmo

Mas estamos no Natal. Será que alguém se lembra de perguntar   qual é o Prazo de Validade do seu Natal atual ? Não, não estamos falando dos Perús, dos Panetones, das ameixas etc. etc. Estamos falando do Natal em si. Quanto tempo  vão  durar seus sorrisos, suas promessas, e sua  vontade de confraternizar com o resto do mundo?

1.PRAZO DE VALIDADE DO NATAL

Embora seu Natal tenha sido almejado  para durar o ano inteiro, você sabe que este não perdurará  tanto tempo assim. O problema é que o prazo de validade do seu Natal depende muito mais de você do que dele.

Ora, se você sequer acredita em Deus e apenas faz de conta que acredita no espírito de Natal e na Ressurreição sem sequer se esforçar, no dia festejado do nascimento de Jesus Cristo,   em conhecer o simbolismo de sua mensagem e mistério,  como esperar que seu Espírito Natalino possa durar?  Fácil é chegar à conclusão de que adulterado pela propaganda  e pelo consumismo o  Natal , hoje em dia,  está chegando com prazo de validade vencido. Infelizmente. 

2.PRAZO DE VALIDADE DO REVEILLON

E do Réveillon, o que dizer? Só consigo entender tanta loucura na festa do réveillon como a abrangência de promessas e perspectivas de um  mundo melhor . Só isso explicaria tanta badalação pela mera passagem de um ponteiro na marcação de um tempo comum.  O  dia 31 de dezembro à meia noite, quer queiram quer não,  não passa do registro cumprido mecanicamente pelos ponteiros dos relógios sem nada de especial. O tempo é relativo, dizia Einstein, mas não tem etiqueta.

Porém, quando programas deletérios e chatos como o   BBBrasil em sua centésima edição são anunciados antes mesmo da virada do ano, você é imediatamente assaltado pela premonição de que o Ano-Novo não trará nada de novo, e todas as demais desgraceiras como essa, vão continuar:  enchentes, roubos, politicagens, extremismos da direita , da esquerda, do céu, e dos infernos.  

Portanto, sabedor que o prazo de validade do réveillon 2024 poderá ser  muito curto, caro leitor, apresse-se. Sua duração será o tempo de tomar 3 ou 4 cervejas, ou cinco doses de cachaça e acreditar que o seu Flamengo, desta vez,  vai ganhar um título. Pelo menos um.


domingo, 10 de dezembro de 2023

A DIFÍCIL FAÇANHA DE SER.


 

ESSA DIFÍCIL FAÇANHA DE SER

José Ewerton Neto

 

Perdido sem saber onde está? Não se preocupe leitor, a tecnologia moderna o achará. Uma antena ali, um satélite acolá, um celular em suas mãos, e pronto.

Portanto, pelo menos em relação a onde estamos, ficamos resolvidos. O seu problema começa quando você tenta se identificar, ou explicar quem você é.

Isso sim, são outros quinhentos, e, pensando bem, já seria querer demais. Quem somos? Ora, para com isso, leitor, melhor deixar esse assunto para Deus, e olhe lá... Se a humanidade, ninguém sabe o que é nem para que serve, imagine você, pobre criatura, parte ínfima dessa humanidade. Quem é você???? Ora, tente se enxergar.

Estar é fácil, ser é que é difícil, aprendi num belo dia em que resolvi fazer uma inscrição para um desses editais à caça de uma graninha para sobreviver. Pediram-me  identidade, CPF, nome do pai, mãe,  CEP, palavra chave, frase de referência e, pasmem!,  identificação de gênero sexual  entre mais de vinte opções das quais eu não conhecia nenhuma. Perseverante, já estava chegando ao final quando me pediram o nome. No auge da ansiedade sonhei em como seria bom se houvesse uma única senha para substituir todo o restante. Logo percebi que estava delirando, tudo se confundia em minha mente eu dava voltas e mais voltas sem chegar a lugar algum. Meu Deus, e agora? Eles pediam meu nome e eu havia esquecido.

Irritei-me, mas logo cheguei à conclusão de que não valia a pena. Resolvi deixar pra lá  irritações, editais e meu nome convicto que, de  incerteza em incerteza, dia virá em que seremos acusados de sequestrar nossas próprias senhas. Seremos julgados e condenados como ladrões de senhas, hackers de nós mesmos. Então, quem sabe o suicídio surja como solução ao pensar que,  pelo menos , Deus, no paraíso, saberá quem somos.

Ledo engano. A tecnologia terá chegado por lá também e São Pedro (imaginando que seja São Pedro aquele velho de terno, gravata e com a cara entupida de botox, em frente a um notebook)  exigirá

“Digite a senha.”

“Como? Senha de quê?”

“Para entrar no céu precisa de senha.  Deus não lhe enviou a senha para seu whats’ app, enquanto você estava morrendo? “

“Desculpe, mas como iria acessar a senha se estava morrendo? Adianto, porém,  que ainda sei rezar o Padre Nosso. Não poderia servir como  senha? “

“Sinto muito senhor... sem senha o Inferno é a serventia da casa. Sugiro, porém, que  se apresse. Lá é  o único lugar do Universo onde ainda dispensam senhas.”

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

ALCE AMERICANO...ÍNDIO


 

ALCE AMERICANO... ÍNDIO

José Ewerton Neto

 

Alce americano...Índio

Amo tanta coisa, tanta gente

Eu devo ir, o nevoeiro está  aumentando

Por que ninguém me entende?

 

Um belo poema, não, caro leitor? 

Talvez feito pela I.A, em um lance de sorte dessa coleta algorítmica,  grandiosa mas insípida, que raramente se traduz em um efeito poético minimamente  apreciável, como esse. Talvez, por outro lado, seja a reprodução de um desses poemas que povoam os raros cadernos literários,  impressos ou virtuais,  que pululam atualmente dentro da net, em que o conteúdo hermético dos poemas,   se confundindo  com  a falta absoluta de sentido,    é suficiente para merecer o destaque que lhes dão seus redatores.

Mas, singularmente, neste, há que se destacar o pungente, o inesperado, o comovente e o absurdo etc. ingredientes que, como se sabe, são mais do que suficientes para o traçado de um bom poema.

Afora o fato de ter sido falado por 4 grandes autores. ( Já ia dizer escrito, mas teria sido melhor dizer, com maior precisão, murmurado)

Sim, caro leitor, porque acima não está exatamente uma poesia, mas uma  coletânea aleatória de murmúrios de geniais autores prestes a partir.

Assim é que estão reproduzidos acima os últimos suspiros pronunciados pelas bocas de Henry Thoreau “ Alce americano...Índio “; Leon Tolstói “ Amo tanta coisa, tanta gente...” Emily Dickson “ Eu devo ir, o nevoeiro está aumentando” e James Joyce “ Por que ninguém me entende?”, curiosamente compondo um retrato ao mesmo tempo suave e denso, terno e dilacerante, delicado e pungente da existência humana, tão absurda – como disse  Clarice Lispector -  em seu definitivo uivo.

Mas um poema com certeza, já que toda trajetória humana, mesmo a mais insignificante para a história,  é um poema. E, com maior razão, a desses autores,  todos eles, capazes um dia de:  “ Ora, direis, ouvir estrelas!”


domingo, 10 de setembro de 2023

LENDO GAUGUIN



LI GAUGUIN

 

Li Gauguin.

Pera aí, mas Gauguin é para ser visto,  não lido. Que história é essa, cronista?

Explico, caro leitor. Li Gauguin , mas não em livro de Paul Gauguin, o genial pintor, mas de outro grande: o romancista Somerset Maugham.

O romance, que muita gente já deve conhecer pelo menos do título é Um gosto e seis vinténs, que eu havia adquirido há anos, num sebo e, como tanto outros que acumulei , aguardava a vez de ser lido. Comprei-o respaldado no que já havia lido desse autor: Servidão Humana e O pecado de Lisa, que tanto prazer de leitura me deram quando jovem.

Enquanto lia, cheguei a suspeitar que o personagem principal do livro, Strickland: um pintor que abandona a civilização e os interesses da vida comum para sair à caça da beleza e da verdade ( ou de como ambas se tornam unívocas  através da obsessão criativa) tinha traços do que eu conhecia da biografia de Paul Gauguin. Finda a leitura, relendo sobre a obra e ainda entusiasmado pela narrativa, minhas suspeitas se confirmaram. O autor se inspirara em Gauguin.

Um título estranho e um personagem complexo por trás de sua genialidade nem sempre são suficientes para seduzir um leitor, mas Somerset Maugham é um autor que não tem medo de transmitir a emoção contemplativa da Arte, através da simplicidade e mesmo de alguns clichês aqui e ali, em busca de trazer o leitor para o ambiente de arrebatamento, quase intraduzível,  da sina a que se propõe o personagem. O que consegue com louvor.

Para complementar esta sugestão de leitura basta acrescentar esta reflexão sobre o personagem Strickland que destaquei de um dos diálogos do romance.

(...) - E a paixão que escravizava Strickland era uma paixão por criar beleza. Ela não lhe dava paz. Levava-o de um lado para o outro. Era eternamente um peregrino, assombrado por uma nostalgia divina, e o demônio que tinha dentro de si era implacável. Existem homens cuja ânsia pela verdade é tamanha que para alcançá-la destroem todas as bases do mundo. Strickland/(Gauguin)  era assim.  


artigo publicado aos sábados no portal


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domingo, 3 de setembro de 2023

SOMOS FELIZES E NÃO SABEMOS

 



SOMOS FELIZES E NÃO SABEMOS

 

Nestes tempos bicudos que correm, nada como um bom exercício de futurologia para chegar à conclusão de que “ Somos felizes e não sabemos”

Veja só o que vem pela frente segundo futurólogos especialistas com base na Ciência e na Estatística:

 

1.Daqui a 50 anos, como hoje,  prefeitos de todo o país estarão em greve. Será reconhecido o direito de greve para quem não faz nada. Haverá sindicato de prefeitos, deputados, senadores e de Membros do STF ,  que farão greve anualmente em luta por melhores salários.

1.Daqui a 50 anos o Brasil continuará tentando ganhar a Copa do Mundo. De Bala Perdida, que será reconhecido como esporte de massa depois de solicitado pela CBF com intermediação do nosso futuro presidente da República junto à FIFA.  Já de futebol masculino terá desistido há 80 anos e de futebol feminino há 50.

2.Daqui a 50 anos extremistas da esquerda e da direita continuarão polarizando as eleições do Brasil do Brasil para presidente. Lula e Bolsonaro serão venerados como heróis da Pátria, de acordo com qual  grupo se instala no poder. Devido a essa alternância livros de História do Brasil serão revisados a cada 5 anos.  

3.Daqui a 50 anos a Guerra da Ucrânia ainda não terá terminado caminhando para ser a Guerra mais longa da História, de duração mais longa que a Guerra dos Cem Anos. E o presidente  eleito do Brasil anunciará como sua grande missão intermediar a Paz entre Rússia e Ucrânia julgando, (como hoje)  que tem poder e delegação divina para isso.

4.Daqui a 50 anos o único Estado do Brasil ainda viável será o Estado de Calamidade Pública.

5.Daqui a 50 anos no Brasil heterossexuais convictos, antigamente chamados de machões, serão reconhecidos como minoria. E estarão fazendo passeatas para reivindicar cotas para entrada na Universidade.  

6. Daqui a 50 anos a Inteligência Artificial substituirá o VAR na análise de interpretação dos lances polêmicos do futebol brasileiro. Mas as polêmicas continuarão intermináveis porque o IA terá aprendido a roubar os jogos. Para os mesmos.

7. Daqui a 50 anos Luan Santana completará 80 anos e será homenageado em especial da Rede Globo como um dos maiores da MPB . No especial, além de Anitta, em cadeira de rodas, mas seminua, estará  presente Jojo Toddynho anunciando, vitoriosa,  algumas  gramas abaixo do peso.

 

É mole ou quer mais?